Cloud Computing. Um pequeno termo que, em pouco tempo, já faz parte de nossa vida e de nossa cultura, trazendo consigo um marcante ar de vanguarda, progresso e futurismo. No entanto se, por um lado, o conceito e prática em si ganham inúmeros adeptos, por outro lado, muitas pessoas encontram-se reticentes em conceber utilizar a nuvem em toda a sua capacidade. O ponto em que a nova tecnologia mais consegue mostrar seu potencial é precisamente junto às empresas, pois a cloud computing pode armazenar não apenas dados, mas sistemas inteiros e softwares em uma plataforma virtual, dispensando o uso de hardware físico no núcleo das empresas. ERPs inteiros podem ser transportados para a nuvem e, a partir daí, serem acessados não apenas dos desktops das empresas, mas por qualquer dispositivo móvel que disponha de pouca capacidade, mas de bom acesso à internet.
Porém, ainda
existe uma resistência entre muitos empresários brasileiros e mesmo
estrangeiros em ousar uma migração tão ampla para uma tecnologia relativamente
nova. Vale ressaltar, no entanto, que os conceitos que envolvem a computação em
nuvem já são discutidos e debatidos há cerca de dez anos, o que torna a
implementação que temos visto hoje o resultado de um processo sólido, e não
apenas de um modismo que tende a passar brevemente. Essa reticência reflete-se
igualmente nos investimentos de start ups voltadas para o provimento de cloud computing.
Os pontos de
resistência, segundo pesquisa realizada pela Frost & Sullivan, não são de
nenhum modo infundadas, embora nenhuma delas ataque diretamente o funcionamento
do armazenamento em nuvem em si mesmo. Em geral, os focos de resistência
consistem, primeiramente, na desconfiança da segurança no armazenamento de
dados; em segundo lugar, na conectividade precária ou insuficiente à rede para
acesso dos dados; e, por fim, a falta de
conhecimento do conceito, o que interfere diretamente na expansão da tecnologia
para outras regiões fora das metrópoles.
Em relação à
segurança, embora o temor não seja infundado, a reserva se deve principalmente
a um tipo de condicionamento cultural no Brasil referente à assimilação de
certas práticas tecnológicas. A desconfiança em relação a tudo o que não é
presencial parece ser parte da formação cultural do brasileiro. Isso,
historicamente, gerou resistência quanto às compras online. Poucos brasileiros
confiavam em comprar online, pois havia o consenso geral que todos os dados
compartilhados na internet são facilmente acessados por hackers. Outra
resistência referente à presencialidade ocorre nos cursos EAD (Ensino à
Distância), na qual não se confia na qualidade do ensino que não seja
presencial, o que não é necessariamente verdadeiro. Agora existe o temor de que
armazenar dados e softwares importantes de gerenciamento de empresas seja
arriscado, pois nenhuma plataforma na internet é suficientemente segura,
principalmente em um setor relativamente novo, como o cloud computing.
Referente à
conectividade, o grande entrave é realmente complicado, e vai além da nuvem,
mas a envolve diretamente. Tecnologia em nuvem consiste em uma plataforma, e
essa plataforma se assenta na conectividade à rede. A grande vantagem da nuvem
consiste em não ficarmos restritos a um único dispositivo dentro de nosso
trabalho, mas podermos acessar os dados de forma completa e sem delay de atualização, seja em um
celular, tablet ou notebooks. Além disso, os custos com um setor de TI, com
mainframes pesados e um hardware de armazenamento interno são imensamente
reduzidos. Porém, todas essas vantagens perdem seu brilho se a conectividade à
nuvem encontrar-se prejudicada. Uma hora sem conexão significaria, para uma
empresa, ficar uma hora sem acessar suas próprias informações de negócios, ou
seja, uma hora sem trabalhar, refém da perda de dados. Mas o problema de
conectividade não é um problema relativo às empresas provedoras de tecnologia
em nuvem. Esse problema relaciona-se ao nosso sistema de comunicações. O Brasil
encontra-se atrasado nas telecomunicações. Em 2011 mesmo, havia um grande
debate entre as empresas que pretendiam trazer a rede 4G para o Brasil e a
ANATEL, que vetava a vinda da rede até que as empresas consolidassem a rede 3G.
A ação da ANATEL não era condenável, pois era fato que a rede 3G havia sido mal
instalada, subutilizando as torres 2G, o que fazia com que muitos usuários de
aparelhos móveis alterassem para 2G quando entravam em rede 3G por perderem
suas conexões ou por essas ficarem mais lentas do que a própria rede 2G. Com
todos esses problemas, torna-se difícil confiarmos na rede de conexão
brasileira para lançarmos dados vitais que só podem ser acessados pela rede. E,
se tivermos de continuar investindo em uma rede de mainframes para garantir o acesso de dados quando a rede
estiver indisponível, o apela da economia de recursos cai por terra. Portanto,
com o problema de conectividade, os dois apelos da cloud computing, acessibilidade móvel e economia de recursos, ficam
ameaçados.
O terceiro
ponto é igualmente complicado. A falta de conhecimento do conceito mantém uma
boa parcela de grandes, médios e pequenos empresários distantes da tecnologia.
Sempre que uma nova técnica é apresentada à sociedade, seus usos devem ser
apresentados em conjunto, bem como o processo que torna a nova tecnologia
viável. Sem que uma consciência de uso prático seja formada, torna-se difícil o
engajamento e fidelização. E, com o correr do tempo, ocorre a exclusão de uma
fatia considerável de potenciais clientes, que não usam ou deixam de usar a
computação em nuvem por não compreender seu conceito básico. O maior impacto
disso ocorre primeiramente para as startups que, precisando encontrar um nicho
de atuação e conseguir aporte financeiro em curto espaço de tempo, não possuem
tempo hábil para gerar essa cultura de uso tecnológico em várias regiões do
Brasil, ficando restritas às metrópoles, onde já existe franca concorrência.
Outro impacto ocorre nas provedoras de cloud
computing em geral, que perdem um foco considerável de clientes, apontados pela
Frost & Sullivan, que são as pequenas e médias empresas que, muitas vezes
por falta de conhecimento do conceito, não procuram as soluções dos servidores
de computação em nuvem.
Considerando
esses três fatores, percebemos que, embora o setor de cloud computing esteja em franco desenvolvimento e seja a pedra
jogada no lago sempre turbulento da tecnologia de negócios, a realidade
brasileira deve ser levada em conta ao analisarmos as possibilidades de
investimento nessa área. Os problemas, como vimos, vão desde formação cultural
a problemas socioeconômicos, que tangenciam a própria tecnologia. Nesse artigo,
apontamos os problemas e desafios para o desenvolvimento tecnológico no Brasil.
No próximo artigo, indicaremos os pontos fundamentais para justificar o
investimento nessa área e estimular o crescimento da cloud computing no Brasil.
Até lá!
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