O grupo francês Casino, controlador do Pão de Açúcar,
pediu ontem a renúncia de Abilio Diniz do cargo de presidente do conselho da
maior varejista do país.
Quando vendeu o controle aos franceses em 2005, Abilio
acertou que teria cargo vitalício de presidente do conselho na empresa fundada
por seu pai mesmo após passar o comando ao Casino, ocorrido em junho de 2012.
O conselho de administração não participa do dia a dia de
uma empresa, mas define as estratégias dos acionistas.
Para pedir a renúncia, os franceses alegam "conflito
de interesse" na possível entrada de Abilio no conselho da BRF, maior
empresa de alimentos do país, criada após a fusão de Sadia e Perdigão.
Isso porque a BRF é uma das maiores fornecedoras do Pão
de Açúcar e ainda compete com os produtos de marca própria da varejista.
O empresário comprou ações da BRF e obteve o apoio de
fundos para assumir a presidência de seu conselho.
Abilio reagiu duramente ao pedido do Casino, formalizado
em assembleia extraordinária de acionistas convocada para aprovar a
substituição de dois conselheiros.
Ele não foi à assembleia, mas já havia marcado posição na
reunião do conselho que aconteceu na véspera.
Nela, Abilio informou que a BRF não é concorrente do
grupo, mas uma de suas fornecedoras. "Não existe entre as companhias
relação de dependência, nem qualquer delas tem capacidade de exercer influência
relevante sobre o comportamento da outra."
Para o empresário, o pedido do Casino não tem fundamento,
já que não há na lei ou no acordo de acionistas restrições à participação no
conselho das duas empresas.
"O argumento sobre um suposto conflito de
interesses, que me impediria de exercer ambos os cargos, é vazio. Nada mais do
que um pretexto para mal dissimular sua real intenção [do Casino]."
Em manifestação lida ontem por Marcelo Trindade,
ex-presidente da CVM e representante do Casino na assembleia, o grupo deixa
claro o que espera de Abilio.
Charles Naouri e Abilio Diniz, essa briga vai longe |
"É imperativo que o senhor Abilio Diniz coloque seus
interesses pessoais em segundo plano (...). Deve renunciar imediatamente ao
cargo de membro do conselho de administração, evitando uma desnecessária
confrontação adicional".
Trindade afirmou que os interesses comerciais da BRF são
"necessariamente conflitantes e contrapostos" com os do Pão de
Açúcar.
Desde que a negociação de BRF e Abilio virou notícia, o
Casino deixa claro que é incompatível o empresário manter os dois cargos.
Abilio, por sua vez, diz que "é muito
frequente" na prática empresarial a participação de investidores e
executivos no conselho de administração de diferentes empresas, o que é
verdade, visto que o conselheiro Cândido Bracher, atua como administrador no grupo Itaú e tem "relações financeiras estratégicas" com o GPA.
Sucesso a todos,
.
Sucesso a todos,
Comentários