Bom dia gestores,
Não é a toa que me manifestei contra o aumento de IPI dos importados, porque a competição faria com que as montadoras nacionais investissem em tecnologia, e produzissem carros nos mesmo padrões dos importados (itens de série, tecnologia, segurança entre outros) e a julgar pelos lucros
que receberam, as matrizes de diversas montadoras de automóveis não
tiveram do que reclamar de suas subsidiárias brasileiras em 2011.
Os dados estão
fresquinhos, foram divulgados pelo Banco Central, a indústria automotiva no Brasil foi o setor que
mais remeteu dinheiro ao exterior no ano passado, à frente até de
bancos e empresas de telecomunicações, que ficaram com o segundo e
terceiro lugares, respectivamente.
Não se trata de
números frívolos: foram os próprios fabricantes de veículos que
registraram junto ao BC remessas de lucros e dividendos no total de
US$ 5,58 bilhões, o maior valor de todos os tempos, equivalente a
19% de todas as operações desse tipo no ano no Brasil e 36%
superior aos US$ 4,1 bilhões de 2010.
Não por acaso, as
remessas recordistas de lucros e dividendos das montadoras instaladas
no país aumentaram justamente no momento em que as matrizes mais
sofrem nos mercados maduros de Europa e América do Norte, e por isso
precisam sustentar seus resultados financeiros com o caixa das
subsidiárias em países emergentes.
O BC não publica a
lista de empresas remetentes de dinheiro nem os valores individuais,
muito menos as empresas informam qualquer dado sobre o tema, alegando
que só divulgam balanços no exterior, mas lá também não se
encontram os lucros recebidos de cada subsidiária; e assim tudo fica
por isso mesmo.
US$ 5,6 bilhões, foi o
valor total remetido às matrizes pelo setor automotivo em 2011,
recorde histórico e maior montante em toda a economia do país,
0,7%, foi o crescimento da produção de veículos no Brasil em 2011
ante 2010; o total chegou a 3,4 milhões de unidades no ano 36%, foi
o crescimento dos valores remetidos ao exterior em 2011 ante 2010,
apesar do pífio aumento na produção.
US$ 1.647, foi o valor
enviado ao exterior a cada veículo produzido aqui, independentemente
de marca, preço local e destino (Brasil ou exportação)
Nada contra o lucro,
tudo contra esconder esses números como se fosse uma coisa ilegal,
eu me manifestei contra o aumento de IPI dos importados, visando a
melhor qualidade dos carros nacionais, e é desconfortável, tendo em
vista que as montadoras, em maior ou menor grau, estão alinhadas ao
discurso da falta de competitividade brasileira, que torna difícil a
vida por aqui, e que por isso precisaria ser compensada com generosos
incentivos fiscais e financiamento público de investimentos, a
manutenção dos empregos e blá, blá, blá, conversa para boi
dormir.
Os dividendos remetidos
mostram que a vida no Brasil pode ser complicada, mas também pode
ser altamente lucrativa, é fato que existem problemas de
competitividade. Por isso mesmo é surpreendente que, em ambiente tão
adverso como pintam as montadoras, as remessas de lucros e dividendos
tenham aumentado tanto.
Vamos também destacar
aqui, que esses resultados foram conseguidos, em sua maioria, com a
venda de carros que não possui sofisticação, itens de segurança e
conforto e são bastante inferiores em comparação com os modelos
fabricados nos países de origem das empresas instaladas aqui, porque
no Brasil o poder aquisitivo dos consumidores também é menor, ainda
que esteja em ascensão. Em tese, são produtos menos rentáveis,
que, para piorar, no Brasil recebem uma das maiores cargas
tributárias do mundo para competir com a margem de lucro.
Portanto, temos no
Brasil um caso inusitado, digno de uma dissertação, ainda a ser
feita, fabricantes de veículos dizem enfrentar aqui custos altos de
toda natureza, fazem produtos considerados de baixa rentabilidade,
com alta incidência de impostos, a produção não avança e, ainda
assim, remetem lucros bilionários às matrizes.
É preciso reconhecer
que “Custo Brasil” e “Lucro Brasil” são como irmãos
siameses: andam grudados, um puxando o outro, mas sempre na mesma
direção, para cima, no preço dos carros, relativamente altos em
relação ao que oferecem.
O Brasil tem, sim,
problemas de competitividade a enfrentar, mas por certo o lucro não
está entre eles. Portanto, não há nenhuma justificativa para
aumentá-los por meio das medidas de incentivo ao setor automotivo
nacional (ou seria transnacional?), que estão em gestação no
governo e podem ser anunciadas em fevereiro.
Muito pelo contrário:
assim como o país deveria reduzir impostos sobre veículos, as
montadoras deveriam dar o bom exemplo de diminuir lucros e incluir
mais qualidade tecnológica nos modelos produzidos aqui.
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