A tríade da Inovação


A Tríade da Inovação e o Apagão de Talentos

Muito tem se comentado acerca do falecimento de Steve Jobs. Em situações como essas, ocorre um fenômeno muito comum: pessoas passam a deificar um elemento humano, enquanto outras passam a denegrir incomensuravelmente o mesmo elemento. Paralela a toda essa discussão, existe o impacto da presença de Jobs em nossas vidas e, consequentemente, o abalo diante de sua ausência. E qual o motivo que tornou Jobs uma figura tão importante em nosso cotidiano? Talento e inovação. A história de Steve Jobs se confunde com a história do próprio computador. Afinal, do Apple II ao iPad 2, passando pela criação do mouse e da interface gráfica, Jobs estava lá, na base de tudo.  Sendo assim, o falecimento de Jobs representa uma luz que se apaga, um talento que desaparece, e vem somar a uma sombra que vem rondando o setor do empreendedorismo: o apagão de talentos.
O Apagão de talentos vem para aliar-se com um outro tipo de apagão já muito enraizado na realidade do profissional atual: o apagão de mão de obra qualificada. Tal apagão, o da mão de obra, influi principalmente quando entramos nos níveis táticos e estratégicos de uma empresa.
Em grande parte, o problema aumenta quando entramos no mérito do apagão de talentos. Mas, afinal, o que queremos dizer quando nos referimos ao dito talento? Que tipo de profissional estamos procurando para preencher os setores táticos e estratégicos ? E, para estendermos a discussão, qual a relação desse talento com o empreendedorismo corporativo?
O talento está relacionado à nossa capacidade individual de criação, de nossa potencialidade de tomar signos, conhecimentos e procedimentos existentes e, a partir deles, criar algo novo, aplicar uma situação que se torna um novo modelo ou paradigma.  Esses talentos, no entanto, nunca aparecem sozinhos para constituir a inovação e consolidar a ação empreendedora. Jobs, como outros, constituem um dos elementos chave do que venho a chamar de tríade da inovação (se esse termo já for utilizado por alguém, por favor, me avisem, pois desconheço tal caso). 
O primeiro elemento da tríade são os Criadores: pessoas que tomam aquilo que existe, pensam algo que não existe, e inovam radicalmente concebendo algo até então nunca visto. Os criadores inventam novos conceitos, irrompem com novos modelos e tendências, e não têm nenhum medo de romper com velhas estruturas. Steve Jobs, Bill Gates, Oscar Niemeyer estão nesse grupo.
O segundo elemento da tríade são os Desenvolvedores: pessoas que, embora não sejam criativas no sentido dos criadores, possuem uma infinita habilidade de tomar aquilo que foi criado e levá-lo ao máximo de sua utilização, otimizando e ampliando possibilidades de aplicação onde nem mesmo os criadores imaginaram ser possível. Os desenvolvedores garantem a renovação, a atualização e, consequentemente, trazem ao auge aquilo que havia sido criado de modo experimental. Um exemplo foi Ford, que tomou um conceito já existente, o da linha de montagem, e desenvolveu-o ao máximo da efetividade no interior das indústrias de automóveis.

O terceiro e último elemento da tríade, e que demarca o fim de um ciclo, é o Disseminador. O disseminador não cria nada, não desenvolve nada: ele divulga o já existente. Ele dissemina e irradia, em muitas versões possíveis, o que já está desenvolvido. Ele espalha e torna conhecido. Leva ao máximo o uso pela multiplicação, garantindo o acesso ao máximo de camadas, mesmo que tenha que simplificar para baratear o custo. O disseminador é inventivo na arte de tornar público. É também o que leva ao esgotamento da aplicação e indica a exaustão de algo, a necessidade de mudança e inovação. As muitas bandas que imitam um certo estilo, as muitas tablets de custo baratíssimo circulando por aí são exemplos de disseminadores.
Um sistema de empreendedorismo saudável deve cultivar essa tríade. Nosso país o cultiva? Qual o problema de nossa capacidade de inovação? Apenas penso, ao escrever essas linhas, em quantos Steve Jobs o Brasil perdeu, ou melhor, matou, por não gerar programas de estímulos, por não criar um campo para o desenvolvimento desses criadores, por nos dizer, repetidamente, que o certo é copiar, seguir o modelo, ao invés de exercitar novas soluções para velhos problemas.
Adeus, Steve! Que nosso país dê espaço para outros como você!

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom o texto, professor.
Eu espero que essa tríade permanece mesmo depois desse apagão de Jobbs e que sua essência exista em tudo que ele criou.

Beijos
PMG&E disse…
Sem palavras por este texto maravilhoso Parabéns Professor!